domingo, 23 de outubro de 2011

Deficiência de Tiamina (vitamina B1)

    Dois felinos pertencentes à mesma proprietária e sem acesso a rua, sendo eles machos, castrados, SRD e adultos (04 e 06 anos). Proprietária relatou que encontrou os animais prostrados, com dificuldade de locomoção, apresentando andar cambaleante. Refere hiporexia há três dias. Durante a anamnese a relatou ainda que os animais não tinham contato um com o outro, apesar de possuir aproximadamente 60 gatos. Proprietária relatou que a alimentação dos animais constituía-se principalmente de peixe e arroz, sendo oferecido eventualmente carne bovina.
Antes do início do tratamento.

     Animais apresentando ataxia, convulsão e tremor de intenção. Discreta lateralização da cabeça. Desidratação leve. O gato de 06 anos também apresentou nistagmo. A suspeita clinica direcionou-se para causas infecciosas ou nutricionais. Como a dieta dos animais era principalmente peixe (fonte importante de tiaminase) e os sinais clínicos apresentados pelos os animais eram condizentes com a literatura (inicialmente letargia e ataxia, evoluindo para ataxia vestibular bilateral, ventroflexão da cabeça, cegueira, demência, lateralização da cabeça, nistagmo e convulsão), optou-se por um diagnóstico clínico para a deficiência de tiamina. Os animais foram suplementados via fluidoterapia intravenosa com complexo B (1 ampola em 250ml de NaCl 0,9%) e por via oral com 19mg de Vitamina B1 (dose 2 a 4 mg/kg/dia), apresentando em menos de 24 horas significativa melhora em relação à ataxia e o tremor de intenção. Os animais foram liberados para casa com recomendação de fornecimento exclusivo de ração para gatos.
  
 Após 12 horas do início do tratamento.

      Segundo TAYLOR, 2010, esta deficiência altera o metabolismo de glicose no cérebro e leva ao desenvolvimento de encefalopatia e hemorragia dos núcleos do tronco cerebral. O diagnóstico presuntivo é baseado no histórico dietético, idade, sexo, raça e sinais clínicos dos animais, sendo apoiado pela remissão dos sinais 24 horas após a administração de tiamina.
LITERATURA CONSULTADA
Taylor, S.M.; Doenças intracranianas. IN: Nelson, R. W; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 4 ed, 2010.
Norsworthy, G. D; Thiamine Deficiency. IN:_______. The Feline Patient, 4ed, 2011 

sábado, 15 de outubro de 2011

A História dos Gatos - O reencontro com os gatos

          Com o tempo, a Igreja também foi sendo mais tolerante à presença do gato, e a perseguição aos felinos foi diminuindo. Ao fim da Idade Média, a aceitação dos gatos nas residências teve um novo impulso, fenômeno que também se estendeu às embarcações, onde os navegadores os mantinham como mascotes. Conhecidos como gatos de navios, esses animais assumiam também a função de controlar a população de roedores a bordo da embarcação. Com o passar do tempo, muitos gatos passaram a ser considerados animais de luxo, ganhando uma boa posição do ponto de vista social, sendo até utilizados como "acessórios" em eventos sociais pelas damas. Nessa época, o gato começou a passar por melhoramentos genéticos para exposições, começando assim a criação de raças puras, com pedigree. Uma das primeiras raças criadas para essa finalidade foi a Persa, que ficou conhecida após sua introdução no continente europeu, realizada pelo viajante italiano Pietro Della Valle.
 
        No século XIX o gato foi exaltado nas artes por grandes nomes como, Victor Hugo e Bandelaire. Neste período, Isaac Newton, para maior conforto dos seus gatos, inventa a portinhola, que permitia que os gatos entrassem e saíssem de casa quando bem entendessem. Ainda neste século são aprovadas na Inglaterra as primeiras leis anti-crueldades, e fundadas as primeiras organizações em defesa do gato e de outros animais. Finalmente os gatos passariam a receber cuidados especiais. Mendel não estudou apenas ervilhas, mas também os gatos. O pai da genética ficou impressionado com a alta diversidade resultante dos cruzamentos e com certas permanências que lhe sugeriram a hipótese de dois fatores, um recessivo e outro dominante.

     Atualmente, os gatos são animais bastante populares, servindo ao homem como um bom animal de companhia, e ainda continuam sendo utilizados por agricultores e navegadores de diversos países como um meio barato de se controlar a população de determinados roedores. Apesar de domesticado, ainda possui características em comum com os seus parentes selvagens, como a técnica de caça. Gracioso, sociável, higiênico, inteligente e independente, passam cerca de 50% da vida em sono leve, 15% em sono profundo, e a maior parte dos 35% restantes, caçando, namorando, brincando e principalmente se limpando.

        Estima-se que existam hoje, só nos Estados Unidos aproximadamente 65 mlhões de gatos, um número que ultrapassa em larga escala o número de cães domésticos. O gato mais velho do mundo até hoje relatado foi o “Creme Puff” que chegou a seu 38o aniversário em agosto de 2005.

        Desta forma, hoje a população de gatos esta aumentando cada vez mais, superando em muitos locais a população de cães, tornando assim importantíssimo que profissionais tenham um conhecimento cada vez maior desta espécie. A medicina de felinos está ficando cada vez mais em evidência e os proprietários de gatos exigindo um maior cuidado e conhecimento, técnico e teórico, dos profissionais que cuidam de seus bichanos.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A História dos Gatos - Tempo das trevas para os gatos

O comportamento independente do gato, sua agilidade e beleza, são atributos que despertou no imaginário popular uma ligação com mistério e magia. Mesmo em culturas onde foram adorados como divindades, não escaparam à torturas e mortes, devido aos seus supostos poderes sobrenaturais. Durante séculos, foram emparedados vivos, para garantir a solidez das casas, igrejas e castelos, e enterrados no limiar destas para dar sorte. Foram enterrados debaixo das plantações, para a garantia de uma colheita abundante.

Em vários momentos da história, sobretudo na Europa durante a Idade Média, os gatos foram associados às bruxas ou considerados símbolos de má sorte e mortos. O papa Gregório IX afirmava na bula Vox in Roma que o diabólico gato preto, "cor do mal e da vergonha", havia caído das nuvens para a infelicidade dos homens. Para acabar com a resistência dos celtas ao catolicismo, a Igreja Católica pregava que os sacerdotes druidas eram bruxos. Como os druidas vivam isolados e cercados de muitos gatos, a Igreja associava os gatos às trevas, devido a seus hábitos noturnos, e dizia que tinham parte com o demônio, principalmente os de cor preta. Milhares de pessoas foram obrigadas a confessar, sob tortura, que haviam venerado o demônio em forma de gato preto, e depois, eram condenadas à morte.

Em toda a Europa, o dia de Todos os Santos passava a ser comemorado, jogando-se na fogueira, sacos cheios de gatos vivos. Em Metz, na França, todos os anos, durante 4 séculos, no culto a São Vito, seriam queimados vivos, 13 gatos presos em uma gaiola. Na coroação da rainha Elizabeth I, centenas de gatos foram aprisionados e levados em procissão, representando o demônio sob o controle da Igreja, e no final da procissão, formam todos queimados vivos.

Porém, os antigos pagaram caro a sua incompreensão pelos gatos. Sem estes caçadores felinos, o número de roedores multiplicou-se rapidamente, espalhando a peste negra por quase toda a Europa e Ásia Ocidental.
Triunfo da Morte (1562), pintor belga Pieter Bruegel

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A História dos Gatos - Bons tempos para os gatos

 
Dinictis


A primeira associação com os humanos da qual se tem notícia ocorreu há cerca de 9.500 anos, mas a domesticação dessa espécie oriunda do continente africano é muito mais antiga. Seu mais primitivo ancestral conhecido é o Miacis, mamífero que viveu há cerca de 40 milhões de anos, no final do período Paleoceno, tinha o corpo comprido, um rabo maior do que o corpo e pernas curtas, tinha provavelmente as unhas retráteis como o gato. A evolução do gato deu origem ao Dinictis, espécie que já apresentava a maior parte das características presentes nos felinos atuais.
   


Bastet

 
O verdadeiro encontro dos Gatos com o homem começou há cerca de cinco mil anos, no antigo Egito, onde estes felinos eram adorados como divindades. A deusa egípcia Bastet, símbolo do amor materno, da ternura e da fecundidade, era retratada com corpo de mulher e cabeça de gato. Acreditava-se que a bela deusa tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Acreditavam ainda que os gatos eram representantes dos deuses, devendo ser protegidos, acarinhados e venerados. Eram considerados os guardiões da noite, dos mortos, e dos mistérios da vida e da morte. Estes guardiões do outro mundo, quando morriam, eram mumificados e seus donos raspavam as sobrancelhas em sinal de luto. Quem matava ou simplesmente feria um gato era condenado à morte. Se uma casa pegava fogo, os gatos eram os primeiros a serem salvos. Apeser de proibida a saída do gatos do Egito, acredita-se que alguns destes felinos devem ter sido levados para a Europa em embarcações comerciais fenícias, cerca de mil anos antes da Era Cristã.

Os romanos, quando invadiram o Egito, adotaram o culto à deusa Bastet, e em Roma, os gatos também passaram a ser perpetuados em estátuas, pinturas e mosaicos, pois representavam o maior símbolo de liberdade para os romanos. Neste período, o gato foi associado à diversas divindades, como Diana, deusa da fecundidade, e a sensual Vênus, muitas vezes representada como uma gata. Com a expansão do Império Romano, os gatos foram sendo introduzidos em toda a Europa, e durante muito tempo, aceitos pelo homem como animais domésticos, pela habilidade em caçar ratos. Na Grécia clássica, o gato já era associado à feminilidade e ao amor, todos atributos de Afrodite.

O gato é um dos animais mais venerado pelos budistas, pelo autodomínio e tendência à meditação. No hinduísmo, a deusa Shosti, que preside os nascimentos, é representada montada num gato. O gato também foi imporante na religião islâmica, onde diversos contos o associam ao profeta Maomé, que teria sido salvo da morte por um gato, que matou uma serpente no momento que o atacava. A relação do gato com o Islã seria uma das causas que levaria a Igreja Católica a relacionar o gato à Satanás.

Na China, estatuetas de gatos eram usadas para expulsar maus espíritos. No Japão, quando um gato morria, era enterrado no templo do seu dono, e no altar do mesmo era oferecido um gato semelhante, pintado ou esculpido, para garantir ao dono tranqüilidade e boa sorte durante sua vida. No Camboja, existe um ritual onde um gato é levado em todas as aldeias, para que não falte chuva e a colheita de arroz seja boa. Os templos pagãos dos países nórdicos eram todos decorados com imagens de gatos, e nas lendas nórdicas, Freya, deusa do amor e da cura, havia uma carruagem que era puxada por dois gatos cinzas, que representavam as qualidades da deusa: fertilidade e ferocidade. Na América, antes da invasão dos europeus, alguns parentes dos gatos, como o Jaguar e o Puma também eram venerados com associações aos deuses.